quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Uma grande Trapista: Rochefort 10º

Ontem tomei uma Rochefort 10 e não poderia deixar de escrever sobre a bela experiência que tive ao apreciar essa excelente expositora das trapistas belgas.
Rochefort 10º aqui em casa
Antes de mais nada, por se tratar de uma cerveja trapista, é fundamental apresentar o conceito desse tipo de cerveja, além das características de como, onde e por quem elas são produzidas.       

            Cervejas Trapistas

Não são consideradas propriamente um estilo único, pois algumas são Dubbel, Tripel ou Quadrupel. Todavia, dado o fato de algumas cervejas trapistas serem consideradas as melhores do mundo por inúmeros especialistas, merecem ser “separadas” das outras.

A Ordem Trapista (oficialmente, Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância) é uma congregação religiosa católica. Seus monges seguem o princípio fundamental do ora et labora, vivendo em grande austeridade e silêncio. Fazem três votos: pobreza, castidade e obediência. Assim, as cervejas, fabricadas em pequenas quantidades no interior dos mosteiros, muitas vezes são difíceis de ser encontradas no mercado, já que os monges não as comercializam com o propósito do lucro, mas apenas para manter o funcionamento da própria abadia e alguns serviços de caridade.

Atualmente, a ITA (International Trappist Association), entidade criada com o propósito de definir as regras do estilo e proteger o nome do uso abusivo por parte de outras marcas, possui como membros apenas sete abadias trapistas, seis na Bélgica (Westvleteren, Chimay, Orval, Achel, Wesmalle e Rochefort) e uma na Holanda (Koningshoeven, onde são fabricadas as cervejas La Trappe). A entidade criou, também, um selo de identificação que só pode ser utilizado em produtos trapistas autênticos.

           
No caso da Rochefort, ela é produzida, obedecendo a um processo bastante rigoroso de seleção de ingredientes, na Abadia de Notre Dame, em Saint-Remy, situada a mais ou menos cinco quilômetros da cidade de Rochefort, por aproximadamente 15 monges que residem no monastério, que têm como característica o fato de serem bastante secretos com relação ao processo de fabricação da cerveja, que não é aberto ao público.

A abadia, como já foi mostrado acima, não vê na produção uma forma de obter lucros e produz cerveja desde 1595, sendo tanto a Rochefort 10º quanto a 6º produzidas a partir de 1953, quando, após a II Guerra Mundial, o local em que as cervejas eram produzidas pegou fogo e os equipamentos precisaram ser repostos, contando, inclusive, com equipamentos da Cervejaria Trapista Chimay - isso significa dizer que durante todo esse tempo (até o incêndio), apenas a Rochefort 8º era feita pelos monges, entrando as irmãs "6" e "10" no catálogo trapista após tal incidente.
Vista aérea da Abadia

Jardim aberto para visitas no local


Os números que diferenciam as cervejas dizem respeito à densidade em "Belgian degrees", em que, quanto maior a numeração, maior a força, a graduação alcoolica da bebida. Densidade essa não relacionada diretamente à porcentagem de álcool inserido, mas sim à quantidade de açúcar dissolvido presente na mistura antes do processo de fermentação. Isso é verdade que a graduação alcoolica da Rochefort 10 é de 11,3%, e não 10% como à primeira vista intui-se.

Essa quadrupel contém os seguintes ingredientes: malte de cevada, amido de trigo, açúcar cândi branco e marrom (açúcar em cristais grandes e duros, como pequenos caramelos, que se dissolve lentamente, liberando aos poucos seu dulçor) e os lúpulos Hallertau e Styrian.

Para deixar bem claro, essa é uma das cervejas mais complexas que já provei: o corpo, o aroma e o sabor representam uma explosão de sensações agradáveis e dignas de "se pensar" a respeito.

A cerveja apresenta coloração marrom-avermelhada, com uma espuma beje, que, embora não seja permanete, deixa uma camada fina a todo instante sobre o líquido. Ao colocarmos o nariz próximo ao copo (um copo trapista - já que é fundamental servir uma cerveja no copo correto) há uma explosão de aromas: podemos identificar claramente chocolate, toffe (sim, aquelas balas), um pouco de café, doce de banana torrado e, bem ao fundo, um herbal refrescante. 
O sabor, além de apresentar o chocolate, o toffe e a banana, apresente toques de frutas vermelhas, como ameixas, sendo que no final ela se torna licorosa e, vale dizer, que eu senti, ontem, após deixá-la um pouco em repouso, o gosto de cascas de uvas vermelhas, além de um picante por causa do álcool.

Uma cerveja belga magnífica, que para o total aproveitamento deve ser servida na temperuta correta, entre 15º - 18°C. Devo contar que apenas uma vez, quando apreciei um exemplar sozinho, em casa, pude sentir, claramente o aroma e sabor de lichia, como se estivesse na boca com aquelas balas vendidas na Liberdade. Acredito, assim como meu tio, que isso tem a ver com a temperatura de serviço, que deveria, no caso, estar perfeita, e com o tempo de guarda da cerveja.

Por fim, digo, que essa é uma cerveja fenomenal, figurando, com certeza, entre as melhores do planeta, excelente para ser aberta num tempo frio como o de hoje, para, escutando uma bela música, pensarmos na vida.

Prove, se você gosta de cerveja, não haverá arrependimentos, isso eu garanto.


Fontes

http://www.abbaye-rochefort.be
http://www.brejas.com.br
1001 Beers You Must Try before You Die - Adrian Tierney Jones

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