sexta-feira, 29 de julho de 2011

Cubismo, olhar de criança, blog

 O Cubismo foi uma das Vanguardas Européias: uma série de movimentos artísticos que aconteceu na passagem do século XIX ao XX, prolongando-se pelas duas primeiras décadas do novo século. Esses movimentos tinham a grande característica de estarem a frente de seu tempo, ou seja, a proposta dos artistas era produzir uma arte ainda não vista, de forma a guiar a cultura contemporânea, em contraposição às estéticas realista e impressionista que eram bastante fortes durante o peródo oitocentista.

A vanguarda por nós em destaque surgiu no início do século XX, nas artes plásticas, tendo como fundadores e principais expositores o espanhol Pablo Picasso (1881 - 1973) e o francês Georges Braque (1882 - 1963), além desses, outros artistas como o francês Fernand Léger (1881 - 1955) e russo Kazimir Malevich (1878 - 1935) também contribuiram para o Cubismo. As obras cubistas  têm como ponto mais marcante a representação das formas da natureza por meio de figuras  geométricas, sobrepostas no mesmo plano, sem compromissos com a real representação das coisas. Tal característica vai em sentido contrário à Mimesis - imitação - da natureza, ideal consagrado nas obras clássicas (Renascimento, por exemplo) e bastante presente na estética Realista, em que as figuras, quando não idênticas à realidade, são bastante semelhantes.

An Englishman in Moscow (1913-14) - Kasimir Malevich
Tete d'une Femme Lisant - Picasso
Violon and Jug - Georges Braque
O que mais me chama a atenção nessas obras é o caráter "multifacetado" da representação humana, em que vemos na mesma figura mais de uma expressão facial (o que até então na história da arte não tinha sido feito, acredito). Ao contrário do que se constata objetivamente nas pinturas, para mim não há o completo abandono da Mimesis: o que há é uma tentativa de representação da natureza subjetiva do homem por meio da abordagem de expressões faciais distintas, ao mesmo tempo e no mesmo plano - algo que ora e vez presenciamos no cotidiano, em que esse aspecto "multifacetado" das pessoas se manifesta, explico melhor.

Quantas vezes já não vimos um conhecido nosso de relançe, durante uma conversa ou qualquer outra atividade que seja, e pareceu que não conhecíamos aquele rosto, mesmo que por um espaço de tempo bastante breve - mas logo em seguida, voltamos a visualizar o semblante (a expressão) a que estamos acostumados?

Esses momentos evidenciam facetas da essência da pessoa que ficam cobertas pelo "eu-social" (no sentido de um "eu-rotineiro") em que as atividades e as preocupações cotidianas - trabalho, casamento, família, etc. - fazem com que o indivíduo se esqueça - ou nem saiba - que pode, por exemplo, ter um contato mais significativo, mais autêntico e descompromissado com as coisas da natureza e com as criações humanas quando livre de pré conceitos e julgamentos formulados - opiniões essas formadas para simplesmente o indivíduo não se desvincular desse eu-social, de seu "porto seguro" a que está acostumado.

É claro que podemos (e devemos), por exemplo, assistir a um filme ou escutar uma música de forma descompromissada, sem levar em conta a reputação de determinado diretor ou de uma banda - ou até mesmo aquela expressão "ouvi falar a respeito" -, para, aí sim, refletirmos sobre aquilo com que tivemos contato e emitir um julgamento, favorável ou não.

Ou seja, acredito ser importante exercitar a capacidade de lançar um olhar de criança - olhar esse acobertado pelos afazeres cotidianos - inocente, despreocupado, pronto para novas experiências e descobertas, para que possamos aproveitar plenamente as novas situações a que somos submetidos e sermos capazes de crescer como pessoas - situações essas não só intelectuais, mas também de contato com outros indivíduos, com outros lugares, etc.

Les Acrobates dans le Cirque (1918) - Fernand Leger

Essa, portanto, é a proposta do blog: apresentar um pouco do meu universo - meu gosto por música, cinema e, claro, por cervejas - e tentar despertar esse aspecto multifacetado do qual falei acima e que os cubistas apresentaram em suas obras, que faz parte da essência das pessoas, e é por nós ignorado. 

Achei interessante ter como matéria do post inaugural o objetivo deste espaço e espero que as pessoas que lerem - não me importa o número - aproveitem e possam entrar em contato com algo que talvez não conheçam.

Obs: Agradeço aos meus amigos Celso, Ricardo, Rimon e Ronald que me incentivaram a criar esse espaço, cujas idéias já vinham sendo discutidas em mesas de bar por aí...