sábado, 17 de setembro de 2011

Journey - ECL1P53

Abrindo a seção de resenhas de discos aqui do blog, não teria por que não iniciar com um da banda que mais gosto, por isso, começamos com o mais novo álbum do Journey, "Eclipse".

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"Eclipse" é um disco que nenhuma banda nova, recente - com menos de 20 anos - conseguiria fazer. Isso é fato.

O grau de maturidade das composições e, principalmente, da execução das faixas é algo impressionante. Para quem esperava algo na mesma linha do "Revelation", de 2008, seguindo uma algo mais convencional ao que a banda já estava acostumada a fazer, disco esse que marcou a estréia do filipino Arnel Piñeda - encontrado pela banda no Youtube, em um cover de "Faithfully" - nos vocais, sucedendo o mestre Jeff Scott Soto, enganou-se.


O disco segue o mesmo raciocínio apresentado em “Trial By Fire”, diferente, com composições diferentes. Uma abordagem mais experimental, conceitual dentro da proposta da banda. Quando vi, antes mesmo de vazarem músicas e tal, que o disco teria a mesma sistemática do clássico de 1996, animei-me. 

O que temos é um disco completamente diferente do que já foi produzido pela banda, soando pesado - e muito -, sem muitas baladas (o que é marca fundamental nos discos a partir dos anos 80) e com bastante ênfase nas linhas de guitarra do Neal Schon, que nos brinda com sua melhor performance técnica da carreira, sem dúvidas. Vale destacar também a presença de canções longas, sem aquela fórmula batida "Intro-Canto-Refrão-Canto-Refrão-Solo-Refrão", com muitos temas, solos e refrães marcantes - além, claro, da retomada de sonoridades já produzidas, valendo lembrar, todavia, que nesse caso trata-se de sons mais "lado b" da banda.

O já mencionado Arnel Piñeda, bastante criticado pelos fãs - inclusive por mim -, sendo considerado "fraco", "uma tentativa de cópia do Steve Perry" etc., nos mostra uma performance matadora, cantando muito, mesmo, digna de calar a boca de quem dizia que o rapaz não sabia cantar. Tal constatação ocorreu pelo fato de nesse disco as músicas terem sido feitas especificamente para seu timbre e alcance vocal - algo diferente de apenas interpretar canções feitas na voz de outro sujeito.

Seguindo a análise "por músico", Ross Valory apresenta um baixo extremamente pesado - dado que passou a utilizar os famosos "bongôs" da Music Man -, firme, sempre junto às linhas de bateria do Castronovo. O tecladista Jonathan Cain, no disco, não escreve muitas músicas e seu teclado aparece de forma muito discreta, diferente ao que estamos acostumados em observar em "Separate Ways", mas fundamental - além disso, vale dizer que ele está tocando guitarra em muitas faixas, inclusive ao vivo. As linhas de batera do Deen estão "sem firulas", firmes, com batida forte e bem marcada, fazendo a "cozinha" de peso juntamente com o Ross, para que Schon simplesmente destrua tudo. Com relação a este último, apenas digo que seus timbres de guitarra estão matadores, muito bem produzidos (como o disco todo, evidentemente), aliados à sua técnica - em breve farei um post sobre o set-up desse grande guitarrista

O disco foi lançado em edição simples e deluxe: primeira vem apenas com o CD, não em uma caixa de acrílico, mas sim e papelão, com um belo acabamento; já a edição deluxe se trata de um Box que contém o CD, dois LPs e fotos da banda. Uma bela edição, feita para quem gosta de comprar os discos – como eu. Acredito que essas edições especiais são uma forma de as gravadoras não perderem o público fiel nesses tempos de downloads e tal... 

Versão Japonesa Simples

Box Deluxe
 
Vamos dar uma passada "track by track" pelo disco.

"City of Hope" abre o album com uma sonoridade bastante familiar, com os riffs de guitarra e os vocais dominando. No final - algo diferente na história da banda - a música dá uma acelerada, comandada pelo Castronovo. Ótima música. "Edge of the Moment" abre com um riff destruidor, pesado e sombrio - aliás, essa é a sonoridade da música por inteira, que nos brinda com um belo refrão. "Chain of Love", em minha opinião, é a melhor música do disco. Ela começa com um teclado orquestrado, sombrio e segue com um riff brutal - nunca tinha ouvido uma entrada de guitarra tão pesada em nenhum outro disco da banda -, além, claro de um belo refrão: melódico e pegajoso. Em seguida temos "Tantra", a primeira balada do disco, muita gente pode achá-la brega e coisas do tipo, mas, com certeza, é uma das melhores baladas lançadas nos últimos 3 - 4 discos. Ela começa apenas com Cain e Arnel, que segue bastante melódico, e depois temos a entrada da banda toda, dando forma e coesão à música. Uma bela faixa, com certeza.

Enquanto as quatro primeiras músicas foram destruidoras cada uma a sua maneira, em "Anything is Possible" temos um AOR clássico, mais chegada aos padrões do estilo. Uma faixa bem legal, mostrando que os mestres do AOR também sabem fazer o "arroz com feijão". Em seguida somos brindados com "Resonate", outra grande música do disco: bastante próxima ao apresentado no início do disco, sombria, pesada e com um excelente refrão. O solo do Neal Schon nessa música, assim como em todo o disco, está matador, mostrando a competência de anos, sempre fiel ao seu já consolidado estilo: bends, pentatônicas, alavancadas...

Chegamos à metade do album. É aí que a coisa começa a mudar de figura.

De fato, há uma queda na qualidade das música em comparação ao apresentado até então, mas - defendo - isso se deu pelo fato de as 3 primeiras abrirem o disco de forma diferente ao que já tinha se ouvido nos outros álbuns e a expectativa de se ver composições nesse nível se mantém pelo restante da audição.

Mas isso, de forma alguma, compromete a qualidade do disco.

Temos logo em seguida "She's a Mystery", uma longa canção (7 minutos) feita no violão, inicialmente com ele sozinho, mas depois com acompanhamento da banda, dando uma sonoridade bem setentista, que remete aos discos "Infinity", "Evolution" e "Departure". Essa música não possui um grande refrão. É diferente do AOR que a banda está acostumada a fazer. Uma faixa boa, que cresce ao final e termina com outro belo solo do mestre Schon. Continuando temos "Human Feel" - o grande momento dessa segunda parte do disco - que segue com uma levada meio tribal feita pelo Deen e um riff legal. É uma canção longa, agitada e possui um grande refrão, seguindo também uma linha mais setentista, menos radiofônica.

Em seguida temos "Ritual". Não gosto dela, serve apenas para encher linguiça. Apesar da minha opinião, é um hard rock melódico legal, rápido, com uma quebra no meio da música interessante e só. Com "To Whom It May Concern" somos apresentados a outra bela balada, com outra bela interpretação do Arnel Piñeda e um tema bonito feito pela guitarra, que segue pela música. A penúltima música, "Someone" é um som muito bem feito, bastante próximo ao que a banda fez no "Revelation" e no "Arrival", e que tem um refrão contagiante, melódico. Bela música. Por fim, temos "Venus", uma faixa instrumental, com orquestra, em que o Neal Schon rouba a cena. É uma continuação de "To Whom It May Concern", que se tivessem sido colocadas juntas, daria um épico de 9 minutos.

Com certeza esse é um grande disco, um dos melhores e mais complexos já feitos pela banda, pois, apesar de ter uma queda no estilo das músicas a partir da segunda metade, abrange composições mais pesadas e sombrias, baladas já conhecidas, os típicos AOR's e há também uma retomada em alguns trechos à sonoridade típica do fial dos anos setenta, antes do lançamento dos clásiscos "Escape", "Frontiers" etc.

Coloco esse album como o melhor do ano dentro da categoria AOR, pois vai contra a maré do que está acontecendo no estilo - os mais recentes lançamentos não nos acrescenta nada de mais, soando extremamente parecidos uns com os outros, seja em relação a bandas novas ou às clássicas. E o Journey -  a melhor banda do gênero, mesmo tendo uma carreira consolidada e motivos de sobra para se acomodar, não se limita a lançar apenas coletâneas ou meras tentativas de reproduzir os tempos áureos da carreira. Isso é bastante válido e deve ser levado em conta na avaliação do disco.

Acredito que "Eclipse" veio para figurar no mesmo patamar de "Escape" e "Frontiers", com certeza. Essa minha opinião só poderá ser confirmada com o passar dos anos, e espero que seja.

Finalizando estas linhas, fomos brindados com aproximadamente 60 minutos de excelente música, para calar a boca daqueles (muitos) que dizem não ser mais feita música de qualidade atualmente, feita por uma das bandas mais competentes de todos os tempos - não é a toa que os caras ainda estão na ativa, firme e fortes. Espero que eles não parem de lançar disco nem de sair em turnê, pois a mesma qualidade que ouvimos nos discos, vemos ao vivo.

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